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Com peça emocionante sobre D. Pedro Casaldáliga IFMT Confresa fecha a MArte

Publicado por: Reitoria / 23 de Setembro de 2024 às 18:58


Foto: Guillerme Enrik - estudante de Jornalismo da Unemat

O espetáculo "Águas Turvas: uma história do Araguaia", um musical produzido pelo Coral do IFMT Confresa encerrou a programação teatral da sexta edição da Mostra de Arte e Cultura (MArte) em Tangará da Serra, na sexta-feira passada (20). O evento reuniu 1200 estudantes de todos os campi. Nesta temporada, o grupo, que é fruto de um projeto de extensão do campus existente desde 2018, prestou uma homenagem ao bispo espanhol Dom Pedro Casaldáliga, atuante na Prelazia de São Félix do Araguaia - MT desde 1968 até pouco antes de sua morte, em 2020.

Pedro foi uma figura de extrema relevância na luta das causas sociais envolvendo os povos indígenas, os ribeirinhos, os poceiros e pequenos agricultores, em um período de muitos conflitos, sobretudo envolvendo a terra, nessa região. Suas ações deixaram muitos legados, dentre eles a existência de um campus do IFMT na cidade de Confresa. Seu pertencimento à região foi tanto que o bispo foi enterrado à beira do rio Araguaia, em um cemitério simples, seguindo ritos pertencentes à cultura dos povos originários locais.

“Tivemos a ideia de ao invés de só um repertório de coral, como a gente já fazia, trabalhar o conceito de coro cênico, ou de um musical. Essa foi um pouco a proposta. A produção do espetáculo, que ainda não está finalizado, contou com a colaboração de todos os estudantes membros do grupo e outras duas servidoras coristas”, relatou o coordenador do projeto, Sebastião Nolasco Junior.

A temática escolhida buscou retratar essa figura relevante para a região, para as lutas sociais, para as lutas pela terra, que foi Dom Pedro Casaldáliga. “Esse religioso que atuou tão fortemente sobre questões sensíveis, que enfrentou muita coisa, até atentados contra sua vida”, completou o docente.

A construção do espetáculo

O grupo começou assistindo o filme Descalço sobre a Terra Vermelha, exibido inicialmente em forma de uma série com três capítulos. Depois foram divididas as equipes de roteiro, cenário, iluminação, cantores e atores.

“A partir do filme veio a construção de roteiro, de adaptação de roteiro. Trabalhamos de uma maneira geral com textos próprios, inclusive poesia, que os meninos mesmos produziaram. A composição instrumental de abertura foi do nosso aluno Pedro, composição dele, e o texto de abertura também, do Pedro guitarrista”.

A obra de Dom Pedro Casaldáliga e sua poesia foram guiando o grupo. Os estudantes Vinícius Viana, Évelin, Carla e Vinícius Gabriel foram criando o texto. Enquanto os músicos iam resgatando um pouco do repertório da MPB, que eles entendiam que casava com aquilo que desejavam retratar.

Além da música autoral Tela do caminho, que abre o espetáculo, vieram outras, como o poema Funeral do Lavrador, de João Cabral de Melo Neto, em música de Chico Buarque; Deus lhe pague, música do Chico Buarque e a última, em cima da obra do Dom Pedro, o Pai Nosso dos Mártires.

“Trabalhamos com um pouquinho de tudo, com coisa própria e adaptada. Ainda estamos em construção, temos uma última cena pra colocar. Nossa terceira apresentação foi na Marte”. Uma vez finalizado o espetáculo a proposta é seguir com a apresentação até o próximo ano percorrendo as escolas do município, levando as escolas ao campus, mostrando à comunidade local e da região os frutos desse projeto de extensão.


Foto: Guillerme Enrik - estudante de Jornalismo da Unemat

Em cena, estudantes artistas

“Essa é minha terceira MArte e é uma honra representar o meu campus. Esse espetáculo, acredito que pra todos nós do Coral IFMT Confresa, foi uma doação de vida mesmo, de vontade. Construímos tudo juntos, com muita dedicação e amor”, contou o estudante Lucas Oliveira dos Santos.

“Tive a honra de ser o personagem principal. Acho mais do que justo homenagear essa figura importante para o desenvolvimento da nossa região e para todas as pessoas que não tinham nada e agora tem o direito de ter uma propriedade, uma terra. Dom Pedro Casaldáliga merece, sempre, ser lembrado pelos seus feitos”.

Questionado sobre o momento mais emocionante da peça, Lucas expressou sua admiração pelo bispo espanhol. “A cena que mostra mais a essência do Pedro Casaldáliga é quando ele confronta os fazendeiros. Ele, diferentemente de outros líderes religiosos, não se escondeu, não omitiu sua voz. Usou seu cargo e visibilidade pra expor as injustiças que aconteciam com os poceiros, os sem-terra. Então, quando ele demonstra que não vai se calar, não vai omitir a realidade, pra mim é o ponto mais impactante e demonstra bem quem ele foi”.

Um dos responsáveis pela construção do roteiro, Vinícius Viana já estreou na MArte superando grandes desafios. “Estou no primeiro ano e sempre gostei muito de escrever. Com a ajuda da Carla, escolhemos os poemas. A gente usou referências bem interessantes que possibilitaram essas escritas. Ela escreveu algumas cenas. A última cena, a gente escreveu junto, inclusive. Então, foi um trabalho bem legal para mim. Estou amando essa experiência”, afirmou Vinicius.

Como nem só de aplausos vivem os artistas, o estudante falou de alguns momentos desafiadores no processo. “Na hora de fazer qualquer tipo de arte não é só escrever. Você tem que adaptar para a realidade, principalmente o teatro, o cinema, e atender às exigências do público. Às vezes você escreve algo próprio, mais motivacional ou emocional, mas é seu, sabe, não é de fácil compreensão pra todos. Então, adaptar a escrita foi algo profundamente difícil” revelou.

O tempo também foi uma desafio. “Juntar música, juntar poesia, mais as falas, é uma coisa que poderia ultrapassar o tempo-limite, poderia ficar desinteressante, porque os diálogos não eram tão impactantes”.  Com uma analogia do universo das lutas ele revelou o segredo para o êxito alcançado. “O romance é como uma luta longa, você vence por pontos, e o conto, seria como MMA, você tem que dar uma pancada e vencer por nocaute. Esse trabalho acho que foi como um conto, nocauteamos já na primeira fala, pra ser impactante”.

Parceira de Vinícius na criação do roteiro, além de auxiliar na parte da iluminação e sonoplastia, Carla Pizzolotto, estudante do terceiro ano do curso técnico em agroindústria se despediu da MArte em 2024.

“Desde que entrei no IF gosto muito do coral. Eu não entrava antes porque não canto. Mas esse ano o Sebastião surgiu com uma proposta diferente, de musical e tudo mais. E como gosto muito de exercer minha criatividade, entrei pra fazer parte da produção. E pra mim tá sendo muito bom porque toda vez que os meninos ensaiavam a peça eu ficava muito animada e feliz de ver eles cantando”.

Para o músico Pedro, aluno do 2º ano de agroindústria, “tá sendo tudo incrível. Desde o finalzinho do ano passado tô no grupo junto com o Tião fazendo a parte das composições, de música, toda a parte instrumental, eu, na guitarra, o Alander, no violão, e o João Vitor, no baixo. Criar coisas é muito bom, principalmente nessa parte musical, instrumental. Além do poema, que não é muito minha praia, mas eu fiz também e tentei. É isso”.


Foto: Guillerme Enrik - estudante de Jornalismo da Unemat

Pessoas reais

Para o professor de música Michael Alves, responsável pela organização da MArte, assistir essa peça foi ter a certeza de que “diferentemente do filme que veio estrangeiros e pegou algumas pessoas dali, aqui vocês são pessoas reais da região. Vi a concretização de um espetáculo feito por pessoas que são do Araguaia”.

O docente destacou alguns elementos técnicos, como cuidado com o “não percussão do Pedro, que acabava tendo um rito litúrgico muito simples, vindo das influências dele da ordem eclesiástica. E tem a sonoridade. Os arranjos estão impecáveis. Essa confusão mental que é feita com a guitarra elétrica e o violão. Tudo no meio dessa cor, dessa luz que fica provocando a gente a relembrar esse Araguaia, esse sol, que não é o Araguaia da poeira, é o Araguaia do sol, da labuta, o Araguaia da pessoa que trabalha com a pecuária, com a agricultura familiar. Musicalmente falando, as divisões vocais estão muito bem classificadas. Fantástico!”

Finalmente, Michael sugeriu como desdobramentos uma ampliação da peça, que conta com 30 minutos de duração. "Tem muita coisa que pode ser ampliada nesse espetáculo. Principalmente o pós-Pedro. A região do Araguaia vem sofrendo nesse pós-Pedro e dá pra trazer essa reflexão do Pedro enquanto concretização, o legado, a concretização daquilo que ele estipulou da simples cova que está lá ao lado do rio”.

Assista a íntegra do espetáculo: https://youtu.be/Pxo18IlrS44?si=xIm3okk67cEb2MCz

 

Texto: Orismeire Zanelato - Decom/Reitoria

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